terça-feira, 22 de maio de 2012

matemáticas e abstrações ou seria um texto sobre o caos?





As paredes têm ouvidos. O tecido é feito de tramas. Meu corpo escuta tudo. Dúvida, mistério, incerteza. Eu não creio que afirmações matemáticas digam de verdades. Falam em teorias, mas já se mostraram frágeis mediante ação. Números e abstrações provocam distúrbios das mais diversas ordens, mas o sentido originário da ineficiência repousa sob a incapacidade de uma ação essencialmente racional. Os números protegem o discurso, quando a ordem dos fatores altera o seu produto. No entanto, estamos aqui falando em estética, e não há nada mais plausível que mudar essa equação. Proponho então, que o caos dos fatores _sempre mutáveis_ alterem o seu produto. Caos como o cenário estético/ético coerente à realidade espacial e caos como potência de mudança, ação, afirmação. A ordem estabiliza os fatores e corrompe qualquer possibilidade de movimento, torna-os estáticos. E o produto que se apresenta não condiz com o ordenamento dos fatores, nem quando a ordem é instituída, afinal se o produto se constitui como objeto, muito pouco valor ele tem em detrimento das forças que envolvem o seu entorno infinito. A indumentária fala além e aquém dos tecidos, linhas e dobras que a compõe. Diz de um estado de ação no mundo e possibilidade de engendramento de novos mundos. A força da moda está nos atravessamentos que ela propõe ao inferir no olhar do outro, como uma catapulta que lança corpos, idéias e afetos e os transformam. Precisa de ordem dos fatores? Pois eu apresento o que sou capaz de mapear num dado instante. Saia, corpo, vestido, flor, pedras, sujeira, vestígios, animal, couro, pele, sangue, magenta, tachas, bicho, cobra, onça, píton, solado, salto, look, estilo, caro, barato, vintage, compra, venda, troca, furto, brilho, ouro, latão, rebite, spike, paetê, tudo isso é poesia jogada na pele, jogada ao vento, virais cotidianos que me infecta, te infecta e nos envolve. Poesia é travessia que dá conta do verbo pela metáfora que adentra a pele da moda como um espirro mal educado que não pede licença. A pele do corpo impera operando incertezas, formas de vida, estados de ação. Vulnerabilidade. Adversidades a parte, não há como agir diferente, a menos que as mentes sejam pequenas por demais e os códigos só se expressem em simbologias duras o suficiente para ignorar a ambiência na qual estão inseridas e permitir codificações finitas. Objetos ignoram o espaço objetivo da percepção que o corpo experimenta somente estando lá e sabendo que pode se mover. É fazer metafísica sem metafísica e deixar latente uma percepção além do corpo, da matéria e das formas, mas imanente ao mesmo corpo que o experimenta e produz. A fenomenologia vai dizer o esquema corporal como consciência da ação e realização, que se configura também no virtual e não há mistério para dizer das afecções que não passam pelas superfícies porosas do tecido da pele, tecido da roupa tecido (verbo) de fibras e fios.  Não há ordem sem caos, nem ação sem mudança. É preciso experimentar e elaborar o novo que atravessa e grita nos tocando na alma. Moda, corpo, verbo, tudo é experiência.

Um comentário:

  1. O espírito da moda deve poder percorrer outros caminhos, que não apenas a episteme a doxa do homem. Deve poder voar para longe, também, dos “interesses” positivistas, fenomenólogos, dialéticos e diabéticos pós-modernos. rsrsrs

    Fico me perguntando se entendo aquele alemão que nos manda apontar o dedo pra conhecermos as coisas. “Isso quer dizer que o objeto de qualquer teoria do significado e do entendimento é a prática pública do proferimento e tudo que torna tal prática possível.” É jogo, é experiência !

    Vida loka!

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