quinta-feira, 17 de maio de 2012

resposta ao convite à vida



ou a respeito do que corre debaixo da pele......





Ao deparar-me com os escritos em prosa tracei uma conversa. E quase um ano depois me sinto à vontade para manifestar. Porque só agora diante do meu sentimento latente, da minha incerta certeza, escutando que eu sou TUDO para um outro é que eu consigo encher o meu peito e dizer que o amor visto de cabeça para baixo é outro amor. Não consigo nem dizer se é só amor, porque essa palavra que dá voz aos poetas parece pequena perto dessa completude que atravessa cada mínimo poro do meu corpo e me faz (a) mulher, amante, amiga, mãe, e me torna o outro. Amor, ou essa coisa que não sei o que é, parece ser o devir-existencial. Devir da própria existência. Tornar-se existir. Devir no próprio devir. Não me reconheço sem essa dose desse algo mágico, fantástico que nos completa, nos envolve e nos torna tudo, um para o outro. Evidência de que o amor não é o mesmo. Não poderia pensar assim e dizer que falo da mesma coisa, uma vez que experimentamos o diferente sempre e sendo nós mesmos. Já poderia afirmar Heráclito sobre o ato de mergulhar em um rio. Acredito na experiência que mergulha no corpo e se banha nesse movimento de ir e vir, de levar, trazer e se perder. Experiência imanente ao corpo. Dessas que não se experimenta duas vezes o mesmo. Nem com o mesmo, imagine com o outro. Ocupo-me de ser sempre ação, nova ação. Dotada de ações íntimas que se reconhece num afago apertado, em seu sentido originário: no amor. Doar, receber, compartilhar. Falamos dos símbolos, códigos, linguagem. Somos coerentes com nossas abordagens, que afirmam a existência a partir da linguagem. Deixamos assim para permitir experimentar tudo o que nos é ofertado dessa novidade, desse novo experimento, desse convite precioso que a vida nos proporciona. Status em redes sociais enchem esse mundo de alegorias, que colorem cinzentas manhãs e nos fazem divertir ao percebermos a ordem pragmática dessas ações. Dizia Peirce, um pensador do seu território, que a pragmática diz dos afetos que ela é capaz de causar naquele determinado objeto. Pois, bem! O objeto que deixamos o outro enxergar com sua miopia é envolvido por esse fragmento afetivo que selecionamos para compartilhar deixando a maior fatia dessa coisa para o nosso próprio ritual. Para nós dois, naquele agosto, dois meses após nossos olhos se atravessarem, entendemos o que as nossas almas almejavam e exigiam de nós. Precisávamos completar o laço daquela fita enroscada, entregue por deus ou pelo diabo, tanto faz, se tratava de um tesouro. Estabelecemos nossas juras e sentíamos pulsar alguma coisa que a gente chama de amor, mas sabemos que vai além do amor dito por nós dois em tempos que não havíamos deixado nossas almas se cruzarem e nossas afecções se atravessarem. Lembro-me quando fomos pegos pela surpresa desse arrebato que não conseguíamos nomear, somente pudemos dizer o quanto parecia que formávamos uma coisa só. Não era necessária a linguagem para além dos olhos, dos afagos e dos suspiros. De fato ainda não é. Compreendemos a movimentação da nossa alma ao encontro do outro e dizemos disso como o mistério do mundo, como a única forma de vida. Nesse sentido aceitamos o convite e fazemos bailar a nossas almas embriagadas de intensidade ao som do gozo do novo que permitirmos escutar com o corpo e alma e nos deixamos envolver. Para todo o sempre, pois minha alma sabe disso. E a sua também.


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