segunda-feira, 18 de junho de 2012

Estrangeiros, apareçam na moda!


É preciso uma estrangeira pra falar de moda.

 Cris e sua mala de estrangeira. Fonte.:www.hojevouassim.com.br

Cris Guerra é publicitária, não é estilista, não é bem uma jornalista de moda oficial, não é produtora de moda, nem fotógrafa de moda, maquiadora e outras profissões da moda. Às vezes, quase sempre ela consegue ser tudo isso, e ainda, para além disso. É comum ler que Cris, do blog Hoje vou assim ama moda, tem o primeiro blog de looks diários do Brasil, se veste muito bem e isso não é novidade para ninguém que acompanha notícias de moda. O que poucos sabem, ou melhor, dão pouca importância, e chama pouco a atenção é que talvez, aqui no Brasil, a Cris seja uma das poucas pessoas que levantam embates pertinentes acerca das potências da moda. E diz isso pra muita gente. Isso não significa que ela seja uma acadêmica e que faça isso citando um amontoado de referências bibliográficas. Nada disso, Cris usa a moda como motor de comunicação, comportamento e linguagem. Alguns ditos acadêmicos por aí vão dizer que eu estou louca, afinal tudo que faz sucesso e alcança a massa parece ser renegado ao menor, ao mais frágil e ao superficial. Pois bem, eu acredito que é nos discursos das superfícies, do efêmero é que se cria e se sustenta a época contemporânea. Nos dias de hoje, muitos de nós carregamos discursos que apresentam por características a superficialidade, o visível. Fazemos isso até mesmo sem ver, pois vivemos numa época de imagens, muitas (inúteis) por sinal. Por isso voltando a Cris, suas impressões a partir da moda, correspondem associações pessoais, ainda que dotadas de referenciais internos, externos e materiais que compõem nossa subjetividade, aquilo que pensamos ser puro, mas que de fato, é bastante diverso e mutável. 

Pois bem, a começar pelo uso da moda, como linha de fuga para a sobrevivência emocional. Cris tem em parte de sua história uma perda, que parece ter mudado sua vida por completo. Para quem a lê, nas palavras bordadas por roupas e nas letras que Cris também disponibiliza ao leitor, ela relaciona a moda ao seu corpo que pulsa emoções, intenções e faz desse conjunto um potente campo de afecção que envolve a si mesma e aos outros. Percebe que coisa mais bonita? Como na moda, sem ser pesado de mais, ao contrário, a partir da leveza, é possível fazer poesia que enriquece o olhar, inspira e colore o dia? Poesia pura, eu repito. E Cris, nessa honestidade despretensiosa e cheia de intenção conseguiu falar e escrever palavras impressas em roupas, compostas em looks como forma de convite para uma conversa, um cumprimento e até mesmo uma questão e sem precisar ir longe demais colocar frutas na cabeça ou coisas do tipo. A força da Cris está na afirmação de um poder da moda a partir do gesto trivial e da ação cotidiana do vestir. O universo dela ao encontro do universo da indumentária.

Lipovetsky, importante filósofo da moda e da “hiper-modernidade”, já dizia que a moda liga-se ao prazer de ver e de ser visto. De fato, ser visto é poder manifestar e ver é uma forma de agregar repertório e conhecimento. Em relação ao prazer, não é somente o deleite ingênuo, mas prazer está relacionado a muitas formas de pensamento e criação. Sinto prazer, por exemplo, no que me acrescenta, no que me preenche de beleza, isso tendo em vista meu conceito de beleza e que está prestes a mudar na próxima esquina. Efim, tudo isso para dizer que acho lamentável a deturpação do sentido da moda, quando aprisionada a elaborações endurecidas do gosto, gosto comprado por um sistema que busca padronizar e vender modos de vida, que são revendidos pelos “naturais” da moda. Assim sendo, desejo que tenham mais estrangeiros, ainda que disfarçados para falar sobre moda, com palavras, tecidos, linhas, bordados, gestos e ações. 

Para conhecer mais da Cris, ela tem outros blogs Cartas para Francisco e Amor e ponto.

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