segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Chão nas alturas é mais um texto sobre cavalos (na moda)


Enfim, ela podia respirar aliviada. Passava das 5 e a notícia corria em sua direção. Não mais colheria frutas secas naquele solo improdutivo e nem sequer precisaria ouvir as relinchadas parcialmente cegas e visivelmente tolas. Era mesmo um alívio. Lágrimas escorriam e se confundiam com um riso frouxo do gozo da liberdade, algo que aquele mensageiro especulador sequer um dia experimentaria. Afinal, vivera sempre sob aquele teto seguro, com a qual ajudava a desmoronar enquanto anunciava suas enrijecidas idéias, ou engessados ideais. Me lembro quando uma vez quisera parecer culto citando versos de Victor Hugo e esquecera de mencionar de que contexto se tratavam aqueles conselhos de um amigo enamorado em um contexto socialmente perturbador, ora como ele saberia! Mas confiava nela, embebido mesmo de suas convicções. E era fácil para ela, crer que aquele cavalo sabido de viseira nunca correria para trás ao primeiro sinal de fraqueza e que saberia, ainda que com suas habilidades e elegância de um corredor, que poderia arar com força e persistência aquele terreno infrutífero. Mas veja só, cavalo criado com mimos de um campeão nunca haveria de se meter com as ferramentas da agricultura, mas também não veria o verde solo produtor, já que não era mesmo um campeão. Lamentável o fato da crença ser um verdadeiro amontoado de referenciais e que honestos objetos não podem mais ser considerados versos de verdade. Parece política, mas se trata de instituição, trabalho, sociedade, relações e é claro, poder. Pois bem, o exercício do poder engendra a liberdade, e nos torna potentes, prontos para sermos as construções que nos forem plausíveis, possíveis, excitantes, no mínimo. Por isso, aquela mensagem se assemelha com uma maquina de fabricar sonhos, desejos e ações. Alívio é na verdade a liberdade incorporada na inflexão do poder verbo, que tudo pode naquele que age, acreditando. Melhor escolher trabalhar com as forças que surgem das fragilidades, que pactuar com as mentiras lançadas, os verdes que não se voltam maduros e incompetência dos infelizes aprisionados no próprio pensamento. É um alívio respirar serenidade e juventude e saber que aqueles que ficam não serão capazes de durar com tanta alienação, ou se durarem, ficaram presos naquele pedaço de terra árido e com vida seca. Perder o chão significa ter que aprender a voar, e acho que esta noite é exatamente isso que ela irá fazer.