terça-feira, 11 de setembro de 2012

verdades produzidas nas fábricas



15:00.
Terça-feira.
(talvez um pouco mais que isso)

 
 
Verdades são produzidas nas fábricas.
Linhas, agulhas, mesas, tesouras, papel, estilete, lápis, caneta, overloque, reta, galoneira, botões, lâminas, mas sinto muito, não há espaço para borrachas.
Numa tarde qualquer naquela fábrica, dentro da sala das mais brilhantes mentes e com o mais alto escalão segundo a hierarquia impressa naquele organograma....
 
Idéias sucateadas.
Palavras que se rebatem no ar como partículas excitadas.
Objetos que são ditos como formas opacas, matérias endurecidas pelos discursos.
Toca o telefone, ela chega. Sua voz sim, é matéria enrijecida e incomoda cortando o vento, retirando a fluidez do ambiente.
Ela não sabe o que diz, mas é o cérebro de toda operação. Supõe tudo como se fossem verdades absolutas. Aliás, o fato de serem afirmadas como verdades, já nos deixa observar que temos aqui a mais clara afirmação de um alto grau de antropomorfismo.  Ora, se as mesmas palavras geradas são, na mesma velocidade engolidas, existe por esse cenário uma significante  transfiguração de sentidos. Diz-se pelos cotovelos, fala pela boca, enxerga com as mãos, mas sem se notar a potente sinestesia dos atos, afastando qualquer sentido pleno da experimentação/produção das coisas.

Afinal, do que exatamente essa pessoa/coisa/entidade diz?
Ela pensava que estava falando de moda. Para ser mais exata de tecidos que se emendam e tomam forma de vestimenta. Linhas que percorrem aquele espaço poroso e escorregadio que são os tecidos, mas não falava bem de tecidos fluidos. Infelizmente ou felizmente, ela dizia de projetos, cujos resultados, consequências, finalidades passavam distantes dessa coisa/conceito moda. Mas também não era experimentação, o que era ainda mais triste. Ela queria por meio da palavra legitimar uma série de tarefas a serem executadas para tornarem vestíveis suas ambições. Via naquela reunião onde não conseguia imperar bem suas idéias uma forma de conduzir e prestar legitimidade à sua sabedoria tola. Era impossível chegar a algum lugar naquele momento em que não sabia experimentar e consequentemente, faltavam-lhe gestos de expressão. Tinha em excesso a linguagem do pastiche, ainda que não dominasse bem esse conceito.
Talvez aí poderíamos encontrar uma solução. Mas não era o caso pois realmente lidava com a moda como mera representação, para se fazer ententida, qualificada em algo, porque sabia que não era boa em nada.

Eis uma rede de verdades tolas sendo formadas.

Seria possível averiguarmos as falhas das proposições geradas naquela sala? Afinal, se tratava de um lugar de produção de roupas/linguagens/conceitos e por assim dizer, verdades. 

Para se fazer roupas é necessário ter experimentado roupas.
Quase como um teorema, lei, movimento,  mas que não diz da roupa fora do corpo ou por cima do corpo. De forma alguma se trata do objeto fora do indivíduo.
Nossas formulações acerca da experimentação passam mais pela idéia da roupa como o próprio corpo.
Moda como devir do existir. A roupa como a própria figura da existência, ou de uma forma de existência, pelo menos.
Agora sim é notória a preocupação com esse espaço (in)produtivo. 
Pensar roupa como a própria vida, é pensar nas quantas vidas somos capazes de produzir e também limitar por meio da matéria moda, ou forma gerada pelo discurso da moda, que também é forma, se não paramos para refletir e buscar a origem das coisas.

Eis aqui apenas uma observação - reflexão - proposição , nada que muda o dia na fábrica. Mais uma vez o sinal toca, o pão está servido, o suco doce na mesa. Todos pensam que pensam, se vestem e se despem. É preciso averiguar, sempre.


 

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