terça-feira, 26 de novembro de 2013

por que (mesmo) eu trabalho com moda?

A incrível mulher coruja na era do rádio - 2009
Colagem digital - Flávia Virgínia


O Dis(positivo) de Deleuze nada tem de positivo. Claro que pensando em positividade como teleologia. Para alguns, se trata apenas de sujeição, produção de subjetividades estáticas, estereotipadas, arquétipos de personalidades. Pode sim tratar-se disso tudo. Lamento o fato de a grande maioria ser mesmo mais um membro do grande corpo organizado. Mas não demonizo. Não julgo. Apenas prefiro os microorganismos que agem não em produção de subjetividade, mas como processos de subjetivação. Sendo micro, operam nas malhas do poder, e enquanto submetidos aos dispositivos, preferem atuar proliferando-se aos poucos, sem anúncios, sem slogans ou promessas, até derrubarem certas formas de poder. Não falo de êxito absoluto. Se tratando dos grandes monstros do capital e da atualidade, aliás, o fracasso é quase certo, mas a derrubada, deslocada, ou seja, os desvios são constantes. A cada movimento pode se comemorar! Foge um personagem do grande espetáculo que consome. E pasmem! Alguns deles fogem, inclusive consumindo. Travestem-se de transgêneros, vestem máscaras, se automutilam nas ruas, praças e galerias. Por isso ando mais amiga dos pequenos incorporados, que dos grandes corpos coletivos que habitam redes e as ruas. Já dizia um grande amigo e irmão que as esquinas é que merecem a atenção. Vejo-as como pontos, pequenos pontos de grandes, valiosos, múltiplos entrecruzamentos. Não sacralizo o capital, ou os dispositivos sacralizados por ele. Por isso também me recuso a profanar. Tais símbolos já se encontram suficientemente impregnados de trajetos por onde nossas mentes insistem em retornar. Para haver liberdade plena, e ao mesmo tempo eventual, é necessário despir-se desses recursos moralizantes, opressivos, totalitários em sua própria concepção. Ficarei com a clichê sub(versão), com o pastiche que engana e gargalha por ser outro sem se transformar eternamente e na próxima “esquina” ser outro ainda. É por isso que eu trabalho com moda(s).

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

a famosa errata



retornei hoje ao blog. como alguém que precisasse mais que um moleskine íntimo para depositar palavras e sintaxe. percebi que exaltei figuras que hoje não me afetam mais, ou me deixei enganar com falsas promessas estampadas nas superfícies. ainda sou amiga da superfície, mas ando vivendo um teatro sem cenário. antes imaginava que havia algo por detrás da cortina. agora, acredito que se há um saber sobre as coisas, tal saber está na própria cortina. se tivermos o acesso a este pretenso teatro, ao escancararmos o tecido que vela o mesmo, nos surpreenderíamos com nada. isto. a própria expectativa que fala do que há por detrás é traída com aquilo que servia para selar, por alguns instantes, o elemento surpresa. no teatro do real acontece assim. já nas artes, os elementos se enriquecem e cedem lugar aos camarins, às coxias, ao cenário, ao figurino e a um árduo treinamento corpório que afirma na existência da interpretação, aquilo que compõe com a cortina um pensamento outro, sem conceitos, sem enquadramentos psicossociais. falam-se apenas afectos, perceptos, sensações. eis outra verdade que se afigura, sem enganar, pois no simulacro  não há modelo. apenas há a sua profanação que se despe junto aos adereços, se desfaz de qualquer promessa. mesmo aquela da satisfação, do riso, do gozo, do choro. figuras de moda mais rasas que o rio arrudas, estilistas mais oportunistas que as bactérias que habitam um corpo. aliás, todos fazem parte deste corpo. um corpo organizado, cheio de órgaos que dispõem seus pares e excluem aqueles que não podem fazer parte. admito aqui mesmo, com letras que não se emparelham com base em hierarquias [ maiúsculas e minúsculas] que muita coisa mudou. abandonado, este espaço pode continuar a ficar, entretanto por ocupar um espaço público e virtual/real/processual, não quero correr o risco dos maus entendidos, dos maus afetos. passa-se um ano e as luzes se transformam. eis aquilo que nos força a pensar. ou, o próprio pensamento.