A incrível mulher coruja na era do rádio - 2009
Colagem digital - Flávia Virgínia
O
Dis(positivo) de Deleuze nada tem de positivo. Claro que pensando em positividade
como teleologia. Para alguns, se trata apenas de sujeição, produção de
subjetividades estáticas, estereotipadas, arquétipos de personalidades. Pode
sim tratar-se disso tudo. Lamento o fato de a grande maioria ser mesmo mais um
membro do grande corpo organizado. Mas não demonizo. Não julgo. Apenas prefiro os
microorganismos que agem não em produção de subjetividade, mas como processos
de subjetivação. Sendo micro, operam nas malhas do poder, e enquanto submetidos
aos dispositivos, preferem atuar proliferando-se aos poucos, sem anúncios, sem
slogans ou promessas, até derrubarem certas formas de poder. Não falo de êxito
absoluto. Se tratando dos grandes monstros do capital e da atualidade, aliás, o
fracasso é quase certo, mas a derrubada, deslocada, ou seja, os desvios são
constantes. A cada movimento pode se comemorar! Foge um personagem do grande
espetáculo que consome. E pasmem! Alguns deles fogem, inclusive consumindo. Travestem-se
de transgêneros, vestem máscaras, se automutilam nas ruas, praças e galerias. Por
isso ando mais amiga dos pequenos incorporados, que dos grandes corpos coletivos
que habitam redes e as ruas. Já dizia um grande amigo e irmão que as esquinas é
que merecem a atenção. Vejo-as como pontos, pequenos pontos de grandes,
valiosos, múltiplos entrecruzamentos. Não sacralizo o capital, ou os
dispositivos sacralizados por ele. Por isso também me recuso a profanar. Tais
símbolos já se encontram suficientemente impregnados de trajetos por onde
nossas mentes insistem em retornar. Para haver liberdade plena, e ao mesmo
tempo eventual, é necessário despir-se desses recursos moralizantes, opressivos,
totalitários em sua própria concepção. Ficarei com a clichê sub(versão), com o
pastiche que engana e gargalha por ser outro sem se transformar eternamente e
na próxima “esquina” ser outro ainda. É por isso que eu trabalho com moda(s).