segunda-feira, 21 de maio de 2012

devaneios sobre a ação prática da moda



Estampa Superfícies porosas (Virginia Lotus) - 2009 - Extraída de um trabalho de arte produzido e exposto no mesmo ano.


Aventure-se ou serás vencido! Esse deveria ser o lema de qualquer estilista, designer e afins que desejam se inserir no mercado. O sistema tem lá seu compromisso de apresentar ao coletivo, umas verdades, e a subversão dos meios para isso é o que mantém vivas as utopias daqueles que se posicionam lá. Vender tem a potência de dizer e dizer tem a possibilidade de alcançar o outro em um exercício cotidiano de afetar e ser afetado. Trabalhar com moda, desenvolver produtos e discursos requer um trabalho de reflexão, pesquisa e ação.  

Pessoalmente não consigo concentrar naquilo que não gosto, não acredito e não me esforço para executar. Ainda não fui arrebatada pela “magia” de saber as medidas exatas do corpo humano, aliás acho isso muito chato e agressivo, ter que impor a ordem de um território que é pura afecção. É também tedioso travar discussões acerca da nomenclatura dos elementos da indumentária e ver que o “vivo” tem a capacidade de morrer na linguagem de quem não se compromete com a potência da moda, fato que me parece demasiadamente empobrecedor.
O encontro do novo, mesmo apresentado velho, sujo, rasgado e cheirando a mofo é mais interessante que a angústia de servir a um mercado invisível e projetado por cegos incompetentes que não pensam na potência da moda quando inserida ao social. Não consigo lidar com a carta mal enviada, rasurada por quem não foi autorizado e entregue sem cuidado. Fica difícil passar a mensagem e continuar lutando, em resistência à visão rasteira e míope dos donos do ouro (nem todos, mas boa parte). Um estilista deveria saber que uma peça de roupa é palavra, parte (verbo e ligação) de uma mensagem que se insere na formulação verbal de uma sociedade que se constrói a partir de códigos. É difícil dizer ao mercado, que para se dizer alguma coisa e se fazer entendido é necessário conhecer seu interlocutor, que se apresenta individual, mas carrega cosigo uma coletividade repleta das mais diversas naturezas. Como ignorar alguém que compra o seu discurso? Como não dar ouvidos à fala de quem escolhe as palavras ofertadas por você? E também o contrário, é necessário que aquele que oferta se apresente de maneira coerente com sua verborragia. Dizer é mesmo um ato muito perigoso, praticamente uma aventura. Dessas que feitas com um ponto de interrogação, provocam respostas. Uma pergunta.(?) A famosa indumentária duvidosa é um convite à criação. Finalizo esse devaneio com o desejo da aventura, da dúvida e do erro como possibilidade de fala, que elogia, mente, grita, xinga, critica, sussurra, canta, discursa, questiona e também se cala.

Um comentário:

  1. João 1:1
    No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. / Ele estava no princípio com Deus. / Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

    A palavra é como (ou é e pronto) Deus, cria e destrói, é retórica e(ou) conhecimento. Mas é, em grande parte, verborragia: pena de nós que precisamos de emprego.

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