As paredes têm ouvidos. O tecido é feito de tramas. Meu
corpo escuta tudo. Dúvida, mistério, incerteza. Eu não creio que afirmações
matemáticas digam de verdades. Falam em teorias, mas já se mostraram frágeis
mediante ação. Números e abstrações provocam distúrbios das mais diversas ordens,
mas o sentido originário da ineficiência repousa sob a incapacidade de uma
ação essencialmente racional. Os números protegem o discurso, quando a ordem
dos fatores altera o seu produto. No entanto, estamos aqui falando em estética,
e não há nada mais plausível que mudar essa equação. Proponho então, que o caos
dos fatores _sempre mutáveis_ alterem o seu produto. Caos como o cenário
estético/ético coerente à realidade espacial e caos como potência de mudança, ação,
afirmação. A ordem estabiliza os fatores e corrompe qualquer possibilidade de movimento,
torna-os estáticos. E o produto que se apresenta não condiz com o ordenamento
dos fatores, nem quando a ordem é instituída, afinal se o produto se constitui
como objeto, muito pouco valor ele tem em detrimento das forças que envolvem o
seu entorno infinito. A indumentária fala além e aquém dos tecidos, linhas e
dobras que a compõe. Diz de um estado de ação no mundo e possibilidade de
engendramento de novos mundos. A força da moda está nos atravessamentos que ela
propõe ao inferir no olhar do outro, como uma catapulta que lança corpos, idéias
e afetos e os transformam. Precisa de ordem dos fatores? Pois eu apresento o que
sou capaz de mapear num dado instante. Saia, corpo, vestido, flor, pedras,
sujeira, vestígios, animal, couro, pele, sangue, magenta, tachas, bicho, cobra,
onça, píton, solado, salto, look, estilo, caro, barato, vintage, compra, venda,
troca, furto, brilho, ouro, latão, rebite, spike, paetê, tudo isso é poesia
jogada na pele, jogada ao vento, virais cotidianos que me infecta, te infecta e nos envolve. Poesia é travessia que dá
conta do verbo pela metáfora que adentra a pele da moda como um espirro mal educado que não pede licença. A pele do corpo impera operando incertezas, formas de vida, estados de ação. Vulnerabilidade. Adversidades a
parte, não há como agir diferente, a menos que as mentes sejam pequenas por
demais e os códigos só se expressem em simbologias duras o suficiente para
ignorar a ambiência na qual estão inseridas e permitir codificações finitas. Objetos
ignoram o espaço objetivo da percepção que o corpo experimenta somente estando
lá e sabendo que pode se mover. É fazer metafísica sem metafísica e deixar
latente uma percepção além do corpo, da matéria e das formas, mas imanente ao mesmo
corpo que o experimenta e produz. A fenomenologia vai dizer o esquema corporal
como consciência da ação e realização, que se configura também no virtual e não há
mistério para dizer das afecções que não passam pelas superfícies porosas do
tecido da pele, tecido da roupa tecido (verbo) de fibras e fios. Não há ordem sem caos, nem ação sem mudança. É
preciso experimentar e elaborar o novo que atravessa e grita nos tocando na
alma. Moda, corpo, verbo, tudo é experiência.
O espírito da moda deve poder percorrer outros caminhos, que não apenas a episteme a doxa do homem. Deve poder voar para longe, também, dos “interesses” positivistas, fenomenólogos, dialéticos e diabéticos pós-modernos. rsrsrs
ResponderExcluirFico me perguntando se entendo aquele alemão que nos manda apontar o dedo pra conhecermos as coisas. “Isso quer dizer que o objeto de qualquer teoria do significado e do entendimento é a prática pública do proferimento e tudo que torna tal prática possível.” É jogo, é experiência !
Vida loka!